domingo, 19 de agosto de 2012

Crise de 1929

Terminada a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos se transformaram no dínamo do capitalismo mundial:

de maior devedor (3 bilhões de dólares) o país passou à invejável posição de maior credor mundial (11 bilhões de dólares).

Mais que isso, os EUA produziam mais de um terço da produção industrial mundial e, em 1929, passaram a mais de 42% da produção mundial total.

Muita gente imigrava pra lá! Muita mesmo!

Mas esse tempo incrível, de riqueza, maravilhoso, gerou algumas contradições fulminantes que vão culminar no surgimento de governos ditatoriais, como foi o de Hitler, na Alemanha.

Antecedentes da Crise

Nos EUA, quem governava há vários anos era o Partido Republicano, defensores do isolacionismo e do liberalismo econômico.

Que isso?

O isolacionismo amparava-se na Doutrina Monroe - "A América para os americanos" - e, consequentemente, desdobrava-se em "a Europa para os europeus". 

Depois da guerra os europeus se organizaram para se erguerem novamente e os EUA não participaram do assunto, da Liga das Nações, por escolha própria. Por conta dessa doutrina.

Essa Liga das Nações não vai dar certo e vai culminar na edificação dos Estados totalitários nazi-fascistas.

Enquanto isso, na outra ponta do isolacionismo, os Estados Unidos baixaram diversas leis restringindo a entrada de estrangeiros no país.

Já o liberalismo tem a ver com o Estado não se intrometer na economia, não impor taxas e coisa do tipo. Deixar que tudo siga "naturalmente".

A lógica é a seguinte: 
o comércio livre (sem taxas) fazia o mercado expandir-se (para vários lugares);
com a expansão do mercado, aumentava a divisão do trabalho (especialidades para produção);
que por sua vez levava ao aumento da produtividade (produção mais rápida) e,
consequentemente, ao aumento da produção (mais produtos).
Resultado final: mais riquezas.

Nada disso vai dar certo. Vamos entender.

Contradições do Capitalismo

A Europa estava destruída e precisava se reconstruir.

O sistema capitalista está totalmente voltado para o lucro crescente.

O capitalista depende da venda da produção que lhe proporciona esse lucro.

Assim, a circulação das mercadorias (as vendas) faz o capital investido na produção dessas mercadorias retornar novamente às mãos do capitalista acrescido de lucro.

Como isso acontece?

O capital divide-se em duas partes:
1. Capital variável, investido na compra da força de trabalho através do pagamento de salários.
2. Capital constante, investido na compra de máquinas, equipamentos, matéria-primas.

O capitalista sempre vai querer produzir mais para lucrar mais, então aplica a maior parte de seu capital na compra de equipamentos melhores para isso, ou seja, no capital constante.

Quanto mais moderna são as máquinas, mais trabalhadores ele pode dispensar.

Ou seja: a aplicação no capital variável tende a diminuir na medida em que o capitalista investe no capital constante.

Atenção: O lucro do capitalista está na diferença entre o que o trabalhador recebe de salários e o valor da mercadoria que ele produz.

O lucro é gerado no capital variável, porque é a partir daí que se transferem valor ao produto;
máquinas e equipamentos não transferem valor ao produto.

Se funciona desse jeito, temos uma contradição: sempre haverá uma tendência para queda da taxa de lucros do capitalista.

VEJA: Se é preciso produzir incessantemente e despejar no mercado quantidades cada vez maiores de mercadoria, o tamanho do mercado deve acompanhar esse ritmo na mesma proporção.

Isso não acontece, porque o número de desempregado é cada vez maior.

Chega um momento que o capitalista não consegue vender seu produto com o mesmo lucro. Que passa a reduzir investimentos e dispensar mão-de-obra.

Vamos ver como isso aconteceu nos EUA

Os Estados Unidos seguiam os moldes liberais. Havia grandes capitalistas e empresas gigantescas, aliadas aos bancos.

Para diminuir os custos da produção e o aumento delas, essas empresas investiram pesado em tecnologia. Produzia-se mais, com menos. 

Isso significou também a demissão de trabalhadores, que não poderiam comprar mais nada.

Aí houve uma concentração de renda (muita gente pobre e pouca gente rica), mas não adiantava o capitalista investir mais em sua produção, porque esta já estava em excesso.

Aí o capital era empregado em mera especulação, afastando-se da realidade econômica. (As pessoas achavam que a empresa estava lucrando muito e crescendo, quando na verdade ela estava lucrando, mas não crescia nem produzia nada além do que já produzia, porque não tinha como investir mais).

Ou seja, a Bolsa de Valores tornou-se o lugar para esse jogo especulativo: da noite para o dia grandes lucros eram incorporados sem passarem pelo processo de produção.

VEJA: Os EUA estava investindo na Europa, que estava arruinada. Eles emprestavam dinheiro aos europeus para que eles comprassem produtos, com dólar americano, das próprias indústrias americanas.

Ou seja, o EUA enriquecia muito com a grana da Europa no plano externo.

No plano interno, os trabalhadores consumiam cada vez menos, porque estavam ficando desempregados, mas os bancos criaram a vendas a crédito. Ou seja, comprar coisas sem dinheiro!

Isso tudo deu muita ilusão de prosperidade aos americanos. Mas aí o bicho vai pegar.

A partir de 1925, a Europa já tava praticamente reconstruída. Suas casas, empresas, bancos, etc. Retomaram a produção e passaram a necessitar menos do EUA.

Enquanto no próprio EUA, o poder de compra dos trabalhadores, que era mascarado pelo crédito, continuava comprometido.

Acontece que os empresários continuavam a produzir mais e mais produtos, o que levou à queda de preços. Muitos produtos, poucos compradores.

Os estoques se acumularam. Os créditos se expandiram, mas ninguém tinha dinheiro. A especulação na Bolsa de Valores não correspondia a realidade: achava-se que as empresas estavam crescendo, quando na verdade não estavam nem lucrando mais (já que pararam de vender).

Aí aconteceu o Crash da Bolsa - 25 de outubro de 1929.

Quando as pessoas perceberam o que aquilo estava se tornando, decidiram vender suas ações, todos juntos, desesperados. Consequência? Elas perderam o valor.

Todo o estoque das empresas caíram para preços irrisórios, já que ninguém tinha grana pra comprar nada.

Como elas compravam? Com créditos do banco, mas eles tiveram que suspender esse crédito... afinal, as pessoas não teriam dinheiro para pagar essas dívidas também.

A solução que as empresas e os governos encontraram para o momento era destruir a produção: nos EUA milhares de carros novos terminaram transformados em sucata; na França, o trigo foi inutilizado e no Brasil o governo de Getúlio Vargas comprava o café e queimava.

A parte curiosa e singular: trava-se de uma crise de abundância, não de escassez. Por isso levou a queda de preços dos produtos.

As empresas tinham que se policiar e produzir menos, ou seja, precisavam de menos trabalhadores. Mais eram demitidos.

Quanto mais trabalhadores eram demitidos, menos haviam pessoas comprando coisas, afinal, não tinha salários.

Então diminuía-se mais a atividade produtiva; demitia-se mais; diminuía-se mais, demitia-se mais. Entrou-se no "ciclo infernal" da crise.

Em 1930, haviam 3 milhões de desempregados; dois anos depois haviam 11 milhões.

Como o governo dos EUA (presidente Hoover) era liberal, para ele "a crise era passageira" e não fez nada muito efetivo para pará-la. Isso fez com que essa crise se espalhasse para outros países.

Só um país se safou dessa crise. Adivinha? URSS.




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