Hegel imaginou que para cada peça dualística ele poderia fornecer um
dispositivo que fizesse com que essa dualidade produzisse um terceiro elemento
que, ao nascer, imediatamente fizesse desaparecer seus progenitores e
mostrar-se como uma “superação” desses elementos. Ele chamou a isso de
dialética. A palavra já existia antes, mas não com essa função de matar os
próprios pais e ainda por cima se proclamar como melhor que eles, como Hegel a
instituiu. Assim, Hegel tentou fazer desaparecer do vocabulário filosófico a
dicotomia espírito-matéria, sujeito-objeto, etc. Mas não conseguiu evitar que
os filhos surgidos após a morte dessas dualidades, ainda que assassinos dos
pais, não levassem o sobrenome do pai. De modo que a dialética produziu da
dualidade espírito-matéria o Espírito, da dualidade sujeito-objeto o Sujeito e
assim por diante. Marx pegou esse dispositivo. E fez o inverso: fez o filho
surgido de cada dualidade, após matar os pais pelo seu próprio parto, ficar com
o nome da mãe. Marx chamou o filho da principal dualidade, espírito-matéria, de
matéria. Quando aplicou esse dispositivo de descrição, chamado dialética, ao
mundo histórico-social, fez a dicotomia burguesia-proletariado morrer em nome
do filho proletariado. No entanto, percebeu que Hegel tinha uma falha perigosa,
a de que o filho trazia algo dos pais que poderia contaminá-lo e, então, tratou
de dizer que o proletariado, ao nascer, não poderia ficar com o nome da mãe ou
do pai, que tinha de ter um nome próprio que apagasse o passado dual. Chamou o
proletariado de nova classe universal e, enfim, de classe nenhuma, de
humanidade.
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