terça-feira, 15 de maio de 2012

Dialética (Reformar)



Hegel imaginou que para cada peça dualística ele poderia fornecer um dispositivo que fizesse com que essa dualidade produzisse um terceiro elemento que, ao nascer, imediatamente fizesse desaparecer seus progenitores e mostrar-se como uma “superação” desses elementos. Ele chamou a isso de dialética. A palavra já existia antes, mas não com essa função de matar os próprios pais e ainda por cima se proclamar como melhor que eles, como Hegel a instituiu. Assim, Hegel tentou fazer desaparecer do vocabulário filosófico a dicotomia espírito-matéria, sujeito-objeto, etc. Mas não conseguiu evitar que os filhos surgidos após a morte dessas dualidades, ainda que assassinos dos pais, não levassem o sobrenome do pai. De modo que a dialética produziu da dualidade espírito-matéria o Espírito, da dualidade sujeito-objeto o Sujeito e assim por diante. Marx pegou esse dispositivo. E fez o inverso: fez o filho surgido de cada dualidade, após matar os pais pelo seu próprio parto, ficar com o nome da mãe. Marx chamou o filho da principal dualidade, espírito-matéria, de matéria. Quando aplicou esse dispositivo de descrição, chamado dialética, ao mundo histórico-social, fez a dicotomia burguesia-proletariado morrer em nome do filho proletariado. No entanto, percebeu que Hegel tinha uma falha perigosa, a de que o filho trazia algo dos pais que poderia contaminá-lo e, então, tratou de dizer que o proletariado, ao nascer, não poderia ficar com o nome da mãe ou do pai, que tinha de ter um nome próprio que apagasse o passado dual. Chamou o proletariado de nova classe universal e, enfim, de classe nenhuma, de humanidade.

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