segunda-feira, 23 de abril de 2012

Encontrado o Ouro! – Parte I

Em suas andanças pelos sertões, os paulistas iriam afinal realizar um velho sonho dos colonizadores portugueses!


Em 1695, no rio das Velhas, no Estado de Minas Gerais, ocorreram as primeiras descobertas significativas de... Ouro!


A partir daí, os quarenta anos seguintes seriam de riqueza, com ouro em Minas Gerais, na Bahia, em Goiás e no Mato Grosso.


Essa exploração de metais preciosos teve importantes efeitos na Metrópole e na Colônia.


Em Portugal, começou a primeira grande corrente imigratória para o Brasil. Durante os primeiros sessenta anos do século XVIII chegaram de Portugal e das ilhas do Atlântico cerca de 600 mil pessoas, das gentes mais variadas: pequenos proprietários, padres, comerciantes, aventureiros, prostitutas e de todo tipo!


Por outro lado, os metais preciosos vieram aliviar momentaneamente os problemas financeiros de Portugal.


Que problemas financeiros?

Primeiro que ocupar a colônia foi muito custoso e eles não encontravam ouro. Passaram a cultivar o açúcar para ver se quebrava o galho e... até funcionou durante um determinado período de tempo.


Mas acontece que os holandeses tomaram o principal polo de açúcar da colônia portuguesa em 1624, o nordeste, e, quando foram expulsos na metade do século, esses holandeses já haviam aprendido as técnicas de cultivo da cana de açúcar e passaram a cultivá-la nas Antilhas.


Daí Portugal não só perdeu seu antigo monopólio como também não conseguia nem mesmo fazer frente ao preço e a qualidade do açúcar antilhano.


Ou seja, essa produção, outrora a mais lucrativa da colônia, já havia deixado de ser.


Além disso, no ano de 1703, Portugal e a Inglaterra fizeram um acordo para trocar panos e vinhos. A ideia era simples: Inglaterra supria Portugal com tecido de sua produção manufaturada e Portugal amassava uva para Inglaterra. Esse acordo é conhecido como Tratado de Methuen.


Acontece que os portugueses acumularam grandes dividas geradas pela necessidade crescente de se consumir os produtos ingleses, porque a demanda portuguesa por tecidos era bem maior que a riqueza produzida pela venda de vinho à Inglaterra.


Vamos devagar e entender isso melhor, porque é complexo! Por quê que os portugueses acumularam grandes dividas e precisavam consumir os produtos ingleses?


Porque a coroa portuguesa tinha um enorme império mercantil, mas todo lucro obtido nessa prática era revertido na forma de gastos que somente mantinham o elevado padrão de vida dos nobres e membros da família real portuguesa. Os recursos não eram usados para dinamizar a economia interna, criar mercados, novos produtos, manufaturas e eliminar necessidades de importar produtos. Daí, a balança comercial em Portugal estava desfavorável.


Mas então veio o ouro.

Esse desequilíbrio na balança comercial era compensado pelo ouro vindo do Brasil. Os metais preciosos realizaram um circuito triangular:

Uma parte ficou no Brasil, dando origem à relativa riqueza da região das minas;

Outra seguiu para Portugal, onde foi consumida no longo reinado de Dom João V (1706-1750), em especial nos gastos da Corte e em obras como o gigantesco palácio-convento de Mafra;

Outra parte, finalmente, foi para em mãos britânicas, acelerando a acumulação de capitais na Inglaterra.


Mas por que justamente a Inglaterra se beneficiou sobre Portugal?

Porque Portugal, ao longo da História, viveu sofrendo ameaça da Espanha. Ao longo de toda história de Portugal foi assim e por isso ele também vivia contando com a ajuda da Inglaterra para se proteger. São aliados históricos!


Quando a União Ibérica terminou, em 1640, Portugal passou a ser governado por D. João IV, da dinastia de Bragança. Imediatamente Espanha declarou guerra a Portugal, que foi obrigado a estabelecer inúmeras alianças pela Europa, que agravaram ainda mais a crise que abatia o país.


Por isso Portugal foi obrigado a fazer concessões comerciais aos ingleses, que iam desde o a venda de produtos manufaturados com taxas alfandegárias reduzidas até a permissão para burguesia inglesa fazer comércio direto com o Brasil.

Esse é o Tratado de Methuen, também conhecido como Tratado dos Panos e Vinhos: Portugal comprava os produtos da Inglaterra sem cobrar taxas de alfândega muito caras, era protegido e vendia vinho.

O resultado não foi bom para Portugal, mas eles se manteram independentes, pelo menos.

Esse boom dos metais fez tudo mudar:

1.  Houve o deslocamento da população que corria atrás de ouro, tanto do litoral quanto da metrópole para o Brasil.

2.      Aumentou o preço de mão-de-obra escrava, porque se ampliou a procura.

3.  Em termos administrativos, o eixo da vida da Colônia deslocou-se para o centro-sul e especialmente para o Rio de Janeiro, por onde entravam escravos e suprimentos e por onde saía o ouro.


Não por acaso, em 1763 a capital do Vice-Reinado foi transferida de Salvador para o Rio.

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