A revolução que abalou o mundo
A Revolução Russa, pelas
mudanças que provocou em todo o mundo, pode ser considerada como um dos
acontecimentos políticos mais importantes do século XX. Pela primeira vez um
partido político marxista tinha conseguido tomar e manter o poder, criando um
novo regime político e uma nova sociedade.
A partir da Revolução
Russa (1917) toda a política mundial mudou. A “revolução vermelha” será
considerada, nos países capitalistas do mundo, uma grande ameaça. Partidos
comunistas surgiram em vários países, geralmente de uma cisão dos partidos
socialistas existentes. Despertou-se um grande interesse pelas obras dos
revolucionários russos, principalmente as de Lênin e de Trotsky.
Em 1917, teve início, no
antigo Império Russo, a construção de um novo Estado, removendo, rápida e
violentamente, tudo que representava o Estado e a sociedade anterior.
O Império Russo na
segunda metade do XIX
Com um imenso território,
enormes recursos naturais e uma população de cento e setenta e cinco milhões de
pessoas [1] de
várias nacionalidades, o Império Russo era uma potência com raízes culturais
asiáticas e europeias.
Em
1914 era o terceiro país do mundo em população, perdendo para China e a Índia,
mas o primeiro em extensão territorial, com vinte e dois milhões de quilômetros
quadrados. [2]
Uma
característica desse império gigantesco era a imensa pobreza da sua população.
A maioria da população era constituída por camponeses que eram duramente explorados
pela nobreza latifundiária e pelo próprio Estado, uma vez que cerca de 18 dos
40 milhões de camponeses da Rússia ocidental (europeia) estavam sob a sua
administração direta.
Em termos políticos, era uma monarquia oriental,
autocrática, com o czar (imperador) concentrando os poderes. Desde o século
XVII a própria nobreza latifundiária estava incorporada ao Estado, possuindo
pouca autonomia em relação ao poder central. Tratava-se, portanto, de uma
administração centralizada e burocrática que combinava o despotismo oriental
com a racionalidade ocidental.
Havia ainda a união do
Estado com a Igreja, incorporando numeroso clero da Igreja Grega Ortodoxa à
estrutura administrativa do Estado. O ensino, nos seus diversos níveis, também
estava sob o controle estatal.
Como bom autocrata, o
czar russo considerava toda terra russa como sua propriedade. Então todos
aqueles que viviam em suas terras deveriam prestar serviços ao Estado como
súditos do czar.
No censo de 1897 o czar
Nicolau II[3] respondeu
à pergunta sobre a sua profissão: Dono da
terra russa.
Não é por acaso, além de
ser bem significativo o fato de ele ser considerado pela população como um pai.
Estrutura Social
O
Estado dividia a população em nobreza, clero, burgueses e camponeses. Havia a nobreza de sangue,
hereditária, e aquela que ascendia por méritos, geralmente por serviços
prestados ao Estado.
Os burgueses também estavam divididos
em categorias hierárquicas.
O clero era mais um grupo
profissional do que estamental, pois os que deixavam a função eram considerados
burgueses, o mesmo acontecendo com os seus filhos.
Os camponeses não estavam legalmente
divididos em categorias, embora houvesse diferenças significativas entre os que
serviam o Estado e os que estavam sob a dependência de particulares.
Todavia, independente dessas
diferenciações legais, a sociedade russa estava concretamente dividida entre os
que tinham e os que não tinham privilégios.
Que tipo de privilégios?
Não estavam sujeitos ao pagamento de
impostos diretos nem a castigos físicos. Podiam ainda se locomover livremente
pelo território do país. Mas somente os nobres e as categorias mais elevadas da
burguesia, os denominados cidadãos notáveis, gozavam desses privilégios.
Somados eles compunham apenas 1% da população.
Já as demais camadas da sociedade,
principalmente os camponeses, sustentavam esses privilegiados e os gastos do
Estado com o seu trabalho, pagando pesados tributos. Para que isso funcionasse
a população era rigidamente controlada pelo Estado.
Os camponeses estiveram
submetidos à servidão até quase o final do século XIX. Formalmente, a servidão
foi abolida em 1861, para os servos de particulares, e, em 1863, para os servos
do czar e os da sua família. Mas na verdade a servidão continuou a existir sob
outras formas. E de modo geral, os servos continuavam trabalhando como antes.
A servidão estava de tal
maneira enraizada na sociedade russa, que o próprio sistema de arrecadação
fiscal estava fundamentado nela.
Isso tudo tornava dificultava o fim à
servidão, já que a Rússia era um país em que havia muita terra e no qual a base
da economia era a agricultura.
Daí a principal fonte de
arrecadação do Estado ser a exploração direta do camponês por meio das pesadas
tributações e dos diferentes impostos e por isso interessava ao Estado fixar o
camponês à terra e, assim, garantir uma arrecadação estável dos tributos.
Um projeto do Estado
Mas é claro que o regime
czarista, apesar do seu conservadorismo, não se manteria insensível ao que se
passava na Europa ocidental, com todo desenvolvimento capitalista,
modernização, partidos políticos, urbanização, escolas, direitos, cidadãos,
classes trabalhadoras, etc. Nada passou despercebido.
Principalmente na segunda
metade do século XIX os czares passaram a fazer reformas modernizantes. A ideia
era dotar a Rússia de uma estrutura industrial poderosa, mas sem comprometer o
exército russo utilizando seus combatentes nas fábricas. Por isso a abolição da
servidão em 1861. Fez parte desse processo de modernização e o plano era
transformar os servos agricultores e mão de obra industrial.
Também foram construídas milhares
de quilômetros de ferrovias que agilizavam a mobilidade de recursos entre as
áreas do gigantesco território russo.
Passou a ser produzido o
ferro, o aço, a indústria mecânica e têxtil. Construção naval e o incremento da
navegação à vapor.
Isso tudo liquidou o
artesanato tradicional e fez surgir grandes indústrias. Algumas com mais de dez
mil operários.
Essa modernização industrial
teve efeitos culturais, sociais e políticos importantes, é o que vamos ver na
próxima aula.
[1] O Brasil em 1865 tinha 9.114.000
milhões de pessoas, segundo consta o censo histórico do IBGE consultado em
Abril de 2012. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censohistorico/1550_1870.shtm
[2] Hoje em dia, segundo o Wikipedia
consultado em Abril de 2012, o Brasil tem 8 514 876,599 km² de extensão territorial.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Geografia_do_Brasil
[3] Governou de 1894 até sua abdicação em
1917, quando renunciou. Ele e aqueles próximos a ele (mulher, filho, quatro
filhas, servo, médico da família, cozinheiro e camareira) foram executados no
porão de uma casa (Casa Ipatiev) pelos bolcheviques na madrugada de 16 para 17
de Julho de 1918.
Nenhum comentário:
Postar um comentário