quinta-feira, 12 de abril de 2012

Revolução Russa - Parte I (Império Russo)

A revolução que abalou o mundo

A Revolução Russa, pelas mudanças que provocou em todo o mundo, pode ser considerada como um dos acontecimentos políticos mais importantes do século XX. Pela primeira vez um partido político marxista tinha conseguido tomar e manter o poder, criando um novo regime político e uma nova sociedade.


A partir da Revolução Russa (1917) toda a política mundial mudou. A “revolução vermelha” será considerada, nos países capitalistas do mundo, uma grande ameaça. Partidos comunistas surgiram em vários países, geralmente de uma cisão dos partidos socialistas existentes. Despertou-se um grande interesse pelas obras dos revolucionários russos, principalmente as de Lênin e de Trotsky.


Em 1917, teve início, no antigo Império Russo, a construção de um novo Estado, removendo, rápida e violentamente, tudo que representava o Estado e a sociedade anterior.


O Império Russo na segunda metade do XIX




Com um imenso território, enormes recursos naturais e uma população de cento e setenta e cinco milhões de pessoas [1] de várias nacionalidades, o Império Russo era uma potência com raízes culturais asiáticas e europeias.


            Em 1914 era o terceiro país do mundo em população, perdendo para China e a Índia, mas o primeiro em extensão territorial, com vinte e dois milhões de quilômetros quadrados. [2]


            Uma característica desse império gigantesco era a imensa pobreza da sua população. A maioria da população era constituída por camponeses que eram duramente explorados pela nobreza latifundiária e pelo próprio Estado, uma vez que cerca de 18 dos 40 milhões de camponeses da Rússia ocidental (europeia) estavam sob a sua administração direta.


            Em termos políticos, era uma monarquia oriental, autocrática, com o czar (imperador) concentrando os poderes. Desde o século XVII a própria nobreza latifundiária estava incorporada ao Estado, possuindo pouca autonomia em relação ao poder central. Tratava-se, portanto, de uma administração centralizada e burocrática que combinava o despotismo oriental com a racionalidade ocidental.

Havia ainda a união do Estado com a Igreja, incorporando numeroso clero da Igreja Grega Ortodoxa à estrutura administrativa do Estado. O ensino, nos seus diversos níveis, também estava sob o controle estatal.

Como bom autocrata, o czar russo considerava toda terra russa como sua propriedade. Então todos aqueles que viviam em suas terras deveriam prestar serviços ao Estado como súditos do czar.

No censo de 1897 o czar Nicolau II[3] respondeu à pergunta sobre a sua profissão: Dono da terra russa.

Não é por acaso, além de ser bem significativo o fato de ele ser considerado pela população como um pai.




Estrutura Social
        O Estado dividia a população em nobreza, clero, burgueses e camponeses. Havia a nobreza de sangue, hereditária, e aquela que ascendia por méritos, geralmente por serviços prestados ao Estado.


        Os burgueses também estavam divididos em categorias hierárquicas.


     O clero era mais um grupo profissional do que estamental, pois os que deixavam a função eram considerados burgueses, o mesmo acontecendo com os seus filhos.


    Os camponeses não estavam legalmente divididos em categorias, embora houvesse diferenças significativas entre os que serviam o Estado e os que estavam sob a dependência de particulares.



       Todavia, independente dessas diferenciações legais, a sociedade russa estava concretamente dividida entre os que tinham e os que não tinham privilégios.


Que tipo de privilégios?


       Não estavam sujeitos ao pagamento de impostos diretos nem a castigos físicos. Podiam ainda se locomover livremente pelo território do país. Mas somente os nobres e as categorias mais elevadas da burguesia, os denominados cidadãos notáveis, gozavam desses privilégios. Somados eles compunham apenas 1% da população.


         Já as demais camadas da sociedade, principalmente os camponeses, sustentavam esses privilegiados e os gastos do Estado com o seu trabalho, pagando pesados tributos. Para que isso funcionasse a população era rigidamente controlada pelo Estado.


Os camponeses estiveram submetidos à servidão até quase o final do século XIX. Formalmente, a servidão foi abolida em 1861, para os servos de particulares, e, em 1863, para os servos do czar e os da sua família. Mas na verdade a servidão continuou a existir sob outras formas. E de modo geral, os servos continuavam trabalhando como antes.


A servidão estava de tal maneira enraizada na sociedade russa, que o próprio sistema de arrecadação fiscal estava fundamentado nela.


 Isso tudo tornava dificultava o fim à servidão, já que a Rússia era um país em que havia muita terra e no qual a base da economia era a agricultura.


Daí a principal fonte de arrecadação do Estado ser a exploração direta do camponês por meio das pesadas tributações e dos diferentes impostos e por isso interessava ao Estado fixar o camponês à terra e, assim, garantir uma arrecadação estável dos tributos.


Um projeto do Estado
Mas é claro que o regime czarista, apesar do seu conservadorismo, não se manteria insensível ao que se passava na Europa ocidental, com todo desenvolvimento capitalista, modernização, partidos políticos, urbanização, escolas, direitos, cidadãos, classes trabalhadoras, etc. Nada passou despercebido.


Principalmente na segunda metade do século XIX os czares passaram a fazer reformas modernizantes. A ideia era dotar a Rússia de uma estrutura industrial poderosa, mas sem comprometer o exército russo utilizando seus combatentes nas fábricas. Por isso a abolição da servidão em 1861. Fez parte desse processo de modernização e o plano era transformar os servos agricultores e mão de obra industrial.


Também foram construídas milhares de quilômetros de ferrovias que agilizavam a mobilidade de recursos entre as áreas do gigantesco território russo.


Passou a ser produzido o ferro, o aço, a indústria mecânica e têxtil. Construção naval e o incremento da navegação à vapor.


Isso tudo liquidou o artesanato tradicional e fez surgir grandes indústrias. Algumas com mais de dez mil operários.


Essa modernização industrial teve efeitos culturais, sociais e políticos importantes, é o que vamos ver na próxima aula.



[1] O Brasil em 1865 tinha 9.114.000 milhões de pessoas, segundo consta o censo histórico do IBGE consultado em Abril de 2012. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censohistorico/1550_1870.shtm
[2] Hoje em dia, segundo o Wikipedia consultado em Abril de 2012, o Brasil tem 8 514 876,599 km² de extensão territorial. http://pt.wikipedia.org/wiki/Geografia_do_Brasil
[3] Governou de 1894 até sua abdicação em 1917, quando renunciou. Ele e aqueles próximos a ele (mulher, filho, quatro filhas, servo, médico da família, cozinheiro e camareira) foram executados no porão de uma casa (Casa Ipatiev) pelos bolcheviques na madrugada de 16 para 17 de Julho de 1918.

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